É preciso precaver-se contra as tentações que se encontram na própria Igreja. – A sociedade com os bons. – Toda a esperança em Deus.
Por isso tu, que crês nestas verdades, toma cuidado com as tentações porque o diabo procura quem com ele se perca. Não permitas que o inimigo te seduza, não só através dos que estão fora da Igreja – pagãos, judeus, hereges – mas através dos que, na própria Igreja católica, vivem mal: desregrados quanto aos prazeres do ventre e da boca, impudicos, entregues a vãs ou ilícitas curiosidades (de espetáculos, de sortilégios, de adivinhações diabólicas); ou vivendo em meio à pompa e ao orgulho da avareza e da insolência, ou em qualquer outro tipo de vida que a Lei condena e pune. Não os imites: chega-te aos bons, que hás de facilmente encontrar se também fores bom. Adorai juntos e amai a Deus – por amor. Todo o nosso prêmio será Ele mesmo, e na vida eterna gozaremos de sua bondade e de sua beleza.
Deus não deve ser amado como algo que se vê com os olhos; deve ser amado como se amam a sabedoria, a verdade, a santidade, a justiça, a caridade – e o que quer que assim se possa chamar – não como se encontram nos homens, mas como se encontram na própria fonte da sabedoria incorruptível e imutável.
Junta-te, pois, a quem quer que vejas amá-las a fim de que, pelo Cristo que se fez homem para ser Mediador de Deus e dos homens, te reconcilies com Deus.
E não julgues que os perversos, ainda que transponham as portas da Igreja, entrarão no Reino dos Céus: a seu tempo serão separados, se se não modificarem para melhor.
Imita os bons, tolera os maus e, porque não sabes o que será amanhã o que hoje é mau, a todos ama.
Não lhes ames porém a injustiça: ama-os para que se apossem da justiça. Lembra-te de que não só o amor de Deus nos foi ordenado mas também o amor do próximo; e de que nesses dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas.
Só cumpre a Lei aquele que recebeu o dom do Espírito Santo – sob todos os aspectos igual ao Pai e ao Filho; porque a própria Trindade é Deus, e em Deus deve ser posta toda a esperança. No homem, seja ele como for, não deve ser posta: uma coisa é Aquele pelo qual somos justificados, outra, aqueles com os quais somos justificados.
Por outro lado, o diabo tenta não só por meio das ambições mas também pelo terror dos insultos, das dores e da própria morte. Maior será a recompensa daquele que, suportando o que quer que seja pelo nome de Cristo e pela esperança da vida eterna, sofrer permanecendo firme: porque, se ceder ao diabo, com ele será condenado.
Mas as obras de misericórdia e a humildade piedosa obtêm do Senhor não permita que os seus servos sejam tentados além de suas forças.
REFERÊNCIA:
SANTO AGOSTINHO. A Instrução dos Catecúmenos. Trad. Maria da Glória Novak. Petrópolis, RJ: Vozes, 2020.